As versões Ghia dos carros Ford são sinônimos de luxo, conforto e requinte. Essas versões são as topo de linha de vários veículos da montadora. No Brasil, tivemos ou ainda temos essa versão nos modelos Del Rey, Focus e Escort, e esse último será alvo deste artigo.
O Escort foi introduzido no mercado brasileiro em 1983, na sua terceira geração, identificada como Mark III, e também esteve presente nas gerações Mark IV, V e VII. O nosso alvo será a geração Mark III (MK3), pois foi a mais requintada de todas. Como ocorre com veículos de outras marcas, a cada geração, reestilização ou mudança de ano, perde-se equipamentos, qualidade de acabamento e de construção, devido à redução de custos, para a infelicidade dos admiradores inclusive do Escort, que ao longo dos anos teve sua qualidade piorada.
Na época de lançamento, os concorrentes eram Fiat Uno, VW Gol e Chevrolet Chevette, e eram bons adversários em termos de desempenho, espaço e preço, mas que perdiam de longe quando o quesito era acabamento.
Quando foi lançado no Brasil, em 1983, o Escort estava disponível nas versões Básica, L, GL, Ghia e XR3. As versões Ghia e XR3 eram as topo de linha nos segmentos luxo e esportividade, respectivamente. Pelo gosto esportivo que o brasileiro tem, a versão XR3 foi a mais aclamada e desejada, e a versão Ghia não obteve muita atenção devido a alguns de seus atributos, sendo o principal a discrição estética.
As grandes diferenças da versão Ghia para as demais versões se encontravam no interior do veículo, e poucas diferenças externas a identificavam. Dentre as alterações externas, tínhamos a inscrição Ghia estilizada na tampa do porta-malas, os brasões do estúdio Ghia nos paralamas dianteiros, os frisos cromados no capô, que contornavam as setas, e na tampa do porta-malas, que também contornavam as lanternas, as calotas exclusivas com detalhes cromados, os vidros em tom dourado e os frisos cromados em volta das janelas. Para a maioria dos compradores, essa discrição era bem vinda, por não chamar a atenção nas ruas.
Mecanicamente, essa versão era igual às demais versões de passeio, contando com motor CHT 1.6, câmbio de 5 velocidades, suspensão independente nas quatro rodas em configuração macia para maior conforto, etc.
A parte interna é que guardava as grandes diferenças em relação às demais versões, inclusive à XR3. Tinha bancos de veludo em tom claro, porta-mapas atrás dos bancos dianteiros, laterais de portas e laterais traseiras em veludo, acompanhando o desenho dos bancos, apliques de madeira de Jacarandá da Bahia nas portas e nas laterais traseiras, painel em duas cores em tom marrom, porta-fitas, toca-fitas, relógio de teto com luz de leitura integrada, luz de leitura traseira, cinzeiros embutidos nas laterais traseiras, banco dianteiros com porta-mapas, ar condicionado, ar quente, painel de instrumentos com velocímetro, tacômetro, marcadores de temperatura e combustível, check control e luzes de advertência para 5 itens (desgaste das pastilhas de freio, nível da água de arrefecimento, nível da água do lavador de pára-brisas, nível do óleo do motor e baixo nível de combustível), vidros elétricos, travas elétricas das portas e porta-malas, regulagem do tempo de espera do temporizador do limpador do pára-brisas, regulagem interna dos retrovisores, revestimento de carpete marrom no piso do porta-malas, revestimento de carpete marrom no encosto do banco traseiro no porta-malas, revestimento plástico nas caixas de roda no porta-malas, lavador, limpador e desembaçador do vidro traseiro, pára-sol do passageiro com espelho, revestimento plástico nas colunas B e C e de courvim na coluna A, que acompanhava o revestimento superior das portas, cinzeiro com acendedor de cigarros, melhor revestimento acústico, que diminuía o ruído interno, teto solar e iluminação do porta-luvas. Alguns desses itens eram opcionais.
Para contar com todos esses equipamentos e requinte, o Escort Ghia cobrava o seu preço, e era um veículo caro. Custava quase Cr$ 7 milhões em novembro de 1983, Cr$ 25 milhões em janeiro de 1985, Cz$ 97.295,00 básico e Cz$ 108.895,00 completo com ar condicionado em maio de 1986, enquanto um modelo básico custava Cz$ 67.287,00. Por esse motivo, poucos foram vendidos: apenas 9% da linha em 1986, porque rivalizavam em preço com veículos de categoria superior, como o Chevrolet Monza, o que os torna raros em nossos dias, ainda mais com mais de 20 anos de uso, durante os quais muitos já deixaram de rodar.
Infelizmente, a perspectiva para nossos carros atuais não é boa. A cada dia, o nivelamento é feito mais por baixo. Os veículos têm acabamento cada vez mais simples, mais feio, mais mal feito e custam cada vez mais. As versões Ghia dos anos 80, tanto do Escort quanto do Del Rey, deixaram muita saudade. |