O Escort no automobilismo brasileiro - Pt.01

Desde os anos 70, a Ford, através de sua divisão Motorsport, investia forte no automobilismo brasileiro. Monopostos Formula Ford, Mavericks 5000 e até Corcel II, preparados pela equipe Bino chefiada por Luis Antonio Greco, mandavam nas divisões 3, A e B. Mas é na metade dos anos 80 em que a história fica mais interessante para nós amantes do Ford Escort.

“Don Greco”, como era conhecido, estava há três anos sem atuar nas pistas. Chamado de volta à ativa em 1983 recebeu o desafio de preparar a menina dos olhos da Ford - o novíssimo Escort. Greco rebatizou a equipe com seu próprio sobrenome e, contando apoio da fabrica, iniciou a preparação do futuro campeão. A estréia do Escort foi na 13ª Mil Quilômetros de Brasília, promovida em setembro daquele ano, onde chegou em 6º lugar com o lendário Chico Lameirão em dupla com Jan Balder.

A temporada de 1983 encerrou com o Escort em ascensão, mas com resultados inexpressivos. Nas “6 Horas de Tarumã”, em outubro, Chico Lameirão levou o seu Escort nº 31 ao 8 º Lugar e nas “12 horas de Interlagos”, Lameirão não conseguiu concluir a prova, por problemas mecânicos.
O Escort #84 de Cláudio Mueller e Victor Steyer, nas Mil Milhas de 1984
O ano de 1984 estréia na famosa “Mil Milhas de Interlagos”, com os gaúchos Cláudio Mueller e Victor Steyer. O resultado não foi dos melhores, visto que o carro ainda estava em desenvolvimento. Mesmo assim, ele chegou em 11º lugar geral e em 4º na sua categoria, colhendo os primeiros frutos do trabalho chefiado por Greco.

Nas pistas, o Escort se destacava pela estabilidade irreprensível.  Aproveitando brechas no regulamento, Greco substituiu as tradicionais buchas por articulações esféricas e, em conjunto com um belo acerto, tornava os Escorts imbatíveis nas curvas. Era praticamente impossível outro concorrente igualar o comportamento e a regularidade na parte mista dos circuitos, o que compensava a limitação técnica dos motores CHT.

Escort #84 nas 12 horas de Interlagos em 1984, em fase final de preparação

No final de 1984, o Escort estava pronto para brilhar nas pistas. A carroceria pesava apenas 750 kg e o CHT 1600cm3 rendia 110cv a 7000RPM, utilizando álcool como combustível. A preparação aspirada utilizava cabeçote retrabalhado e o comando original do XR3, já que o regulamento era fator limitante para preparações mais “bravas”. Fazia o “0-100” em 9s e no final das retas atingia 200km/h.

1985, o ano da consagração

Em 85, uma novidade no regulamento agita o campeonato brasileiro de Marcas e Pilotos – A era Turbo. Por regulamento, os motores Turbo eram limitados a 1140cm3 e pressão máxima a 0,6bar, o que na prática nivelava ao rendimento dos motores aspirados, que permaneciam com 1600cm3.  A curiosa cilindrada resultava do regulamento técnico, que permitia superalimentação com coeficiente de equivalência 1,4 em relação ao motor de aspiração atmosférica. Assim 1,14 x 1,4 = 1,6 litro, em números redondos. Essa equivalência é determinada internacionalmente pela FIA.

Beto Coutinho pilotando o Escort #7 nos “500Km do Rio de Janeiro”

O campeonato novamente começou com a disputa das “6 Horas de Interlagos”, corrida que no terceiro ano da história da categoria foi disputada no dia 15 de junho, sendo vencida pela dupla Paulo Júdice e Egídio “Chichola” Micci, que corria com um Gol.

A segunda prova do ano foi a “500 km do Rio de Janeiro”, disputa travada no dia 6 de julho que teve a vitória de Elio Seikel e Andréas Mattheis, que também usaram o Gol, mesmo modelo usado por Armando Balbi e Toni Rocha, os vencedores da terceira etapa, a “500 km de Brasília”, disputada em 28 de julho.



O famoso Escort #45 da vitoriosa dupla Fábio Greco e Lian Duarte


Da quarta à oitava etapas, não teve pra ninguém. O Escort # 45 dos paulistas, Fábio Greco – o filho do homem – e Lian Duarte alcançou três triunfos seguidos: As provas “12 Horas de Goiânia” disputada em agosto, “500 km de Goiânia” e nas “6 Horas de Guaporé”, disputadas respectivamente em setembro e outubro. Já a “1000 km de Brasília”, promovida em 1º de setembro, foi vencida pelo Escort #46 dos também paulistas, Luiz “Pitoco” Rosenfeld e Valdir Florenzo.









O companheiro de equipe #46 dos paulistas Luiz “Pitoco” Rosenfeld e Valdir Florenzo


Na 8ª e antepenúltima etapa disputada em 12 de outubro, a “500 km de Tarumã”, os mineiros José Junqueira e Vinícius Pimentel ganharam pilotando um Fiat Uno Turbo.

Novamente os Escort voltavam ao topo, faturando as 9ª e 10ª etapas: em 10 de novembro na “500 km do Rio de Janeiro”, onde o 1º lugar do pódio voltou a ser ocupado por Greco e Duarte.


O Escort aspirado #11 dos gauchos Egon Herzfeldt e Ronaldo Ely, 1985


Em dezembro com os gauchos Egon Herzfeldt/Ronaldo Ely, pilotando o Escort #11, foram os vencedores dos “1000 km de Interlagos”.

Os paulistas Fábio Greco e Lian Duarte levaram o título do certame de Pilotos, coroando o trabalho da equipe Greco e alçando o Escort ao merecido sucesso.

Em 1986, o ultimo ano dos MK3


Alinhada com o regulamento da FISA “A”, a CBA limitou a preparação dos motores aspirados. O campeonato foi rebatizado com o célebre nome copa Shell de Marcas e Pilotos, até hoje sinônimo de Turismo Nacional. A equipe Greco, permanecendo com os Escorts aspirados, estreava com radiador de óleo e diferencial importado Hewland. As peças do motor continuam a ser as originais, retrabalhadas, e o coletor de escape era totalmente novo.  

O Escort #22, pilotado por Fabio Greco e Paulo Gomes em 1986


As mudanças não surtiram efeito e diante da evolução dos motores Turbo, os aspirados eram facilmente superados. Seguindo a maioria, a equipe Greco investiu em outro tipo de Escort: O equipado com Turbo.

Utilizando comando original 262 do Escort L/GL para melhor rendimento antes das 3000RPM, enquanto o Turbo não entrava, os Escort Turbo corriam em Interlagos, justamente para “alargar” a faixa de torque dos CHT nas subidas do circuito. O limite para as trocas eram 5500RPM, limite nada difícil de ser superado.

Embaixo d’agua e pilotando o Escort Turbo #22, Paulo Gomes deu um show de pilotagem, faturando as “duas horas de São Paulo”, disputada em fevereiro. Depois, apenas mais um triunfo: O mesmo Paulão chegou em 1º em uma das baterias dos “300 km do Rio de Janeiro”, em Jacarepaguá. O restante da temporada ficou marcado pelos problemas mecânicos enfrentados com a dupla CHT e Turbo. Mesmo assim, “Fabinho” Sotto Mayor chegou em 3º lugar no campeonato.

Os Escort MK4 estreavam em 1987. Mas esta é outra história, objetivo do próximo artigo. Até lá!


Créditos

Revista Quatro Rodas
Revista Motor 3
Site TopSpeed
Site Autoracing
Blog do Sanco
Blog do Flávio Gomes

 

Daniel Bronzatti (Dj_mk3)
Escort Clube