"Brasileiro é apaixonado por carro" já dizia a propaganda de uma famosa rede de postos de combustíveis. É verdade. Nós gostamos de ver Fórmula 1 na TV, ir bem cedinho na feira de automóveis aos domingos, levar a família na concessionária "só pra dar uma olhadinha naquele lançamento".
Neste primeiro artigo, vou abordar uma das vertentes mais encantadoras desta paixão: Carros Antigos.
Quem não se encanta ao ver um carro antigo tinindo de novo rodando com muita saúde em nossas ruas e até estradas? Pois nunca o Brasileiro se interessou tanto por este tema.
Uns tem no antigomobilismo uma fonte de relaxamento e prazer. Outros vêem como um grande negócio. Já alguns querem resgatar memórias de uma época que deixou boas lembranças. É nesta última a qual me indentifico e terei o enorme prazer em compartilhar com vocês.
Na minha infanto-adolescência, quando o único carro que poderia chamar de meu era um surrado rolemã, sonhava em ter o que todo mundo sonhava em ter: Um Escort – Mas tem que ser um XR3!!! – pensava. Um XR3 com teto solar – Amarelo, já pensou? – Dizia aos amigos. Quando via um, parava, babava e morria, com o perdão da palavra.
O tempo passou, eu cresci e a paixão, ainda que arrefecida, continuava. Vieram vários carros, mas em algum momento pensava que, um dia, ainda realizaria aquele velho sonho. Às vezes via alguns exemplares do meu sonho rodando, quase sempre em estado lastimável, culpa dos donos que não sabem valorizar o próprio patrimônio – Se fosse um Puma, esse infeliz não iria cuidar do mesmo jeito – lamentava.
Certo dia, no fim das minhas férias do ano de 2006, um amigo de longa data, sabido da minha vontade em realizar o meu velho sonho, me deu a dica:
- Velho, sei de um lugar que tem um Escort XR3, precisando de um dono
- Demorou. Vamos lá vê-lo agora! Disse, confiante.
E lá estava ele. "Meu sonho vermelho", pensei. Procurei saber da história – Ele era de um senhor que faleceu há 7 anos – Disse o vendedor – Ele está em consignação, a viúva precisava desocupar a garagem e o deixou aqui para vendermos – alegou. O carro estava bonito, com alguns detalhes não originais, mas integro de carroceria e motor. Consultei os documentos e estavam ok – Fechado – disse sem pestanejar. Olhei para o meu amigo e ele estava sorrindo. Tanto ele como eu sabíamos que algo especial tinha acabado de acontecer.
Alguns dias depois fui buscar meu sonho. Ali, sentado no banco, sentindo o volante e as suas reações, era o cara mais feliz do planeta. Parecia uma criança com seu brinquedo novo. E como era uma criança chata e exigente, logo já fiz uma lista de tarefas para deixar o meu sonho como ele saiu de fábrica. Queria que a sua originalidade e beleza encantassem as outras pessoas como me encantou há muito tempo atrás.
Tratei logo de fazer uma revisão mecânica completa. Depois, levei-o a um martelinho para tirar todos os amassados e eliminar alguns probleminhas (leia-se ferrugem). Nada mais óbvio, afinal ele já tem 23 anos. Comecei meu garimpo em lojas e desmanches. Conheci gente com o mesmo desafio. Fiz contatos e, através de um deles, fui apresentado a família Escort, que, confesso, me ajudou muito a levar meu sonho adiante. Mas o maior (ou pior) ainda estava por vir.
 Em um belo fim de semana, resolvo consertar a trava elétrica por conta própria. Desmonta aqui, mexe ali e percebo que, por trás daquela beleza exterior, escondia-se um interior bastante obscuro. Ali eu entendi o real sentido da expressão "Está precisando de um dono". Havia pó e barro para todo o lado. Dutos, caixa de ar, fiações, assoalho e painel estavam clamando por atenção urgente. E a minha saga vocês já conhecem. Aqueles que ainda não tiveram a oportinidade de conhecê-la, sugiro visitar o post "Restauração MK3" na seção Manutenção Geral, Mecânica e Preparação de Motores, no nosso querido fórum do clube.
Quatro meses depois, satisfeito por ter executado um excelente trabalho e rindo de todas as pessoas que diziam que, com as peças que sobrariam dariam para montar um robozinho, parei para pensar o que motivou um cara que entende de computadores a se aventurar a fazer algo do tipo.
– Foi a paixão – Conclui.
"Engana-se que ter um antigo significa só ter um carro exclusivo. Antigomobilismo é paixão e a unica regra é ter um carro impecável, seja ele um simpático Fusca até um raríssimo Willys Interlagos. Ou mesmo, um Escort XR3".
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