Carro de mulher?

Confesso que quando “ganhei” o Escort, senti uma tristeza sem fim. Todos haviam acabado de trocar os carros e porque eu, justo eu, teria que ficar com o vovô da família? Eu estava inconformada. Vergonha? Sim, eu sentia. Quando todos os seus amigos desfilam felizes e satisfeitos com seus carros novinhos, e você, só você, passeia com a herança da família, é complicado. Planos pra trocá-lo? Vários. Já havia feito contas e mais contas, calculado tudo que deveria economizar pra comprar um “milzinho mais novo”. E como sempre, acabei percebendo que nem meus maiores esforços de contenção de gastos seriam suficientes. Diante da iminência de permanecer com o Escort por pelo menos mais um ano, fui sensata. “Já que vou ficar com ele mesmo, que pelo menos ele esteja arrumadinho.” E no decorrer desse processo de arrumação, fui tomando gosto pela coisa. Entrar no clube foi parte fundamental. Ver que muitos amavam aquilo que eu descartava, foi importantíssimo pra mim. Me fez perceber que eu não era aquela garota fútil que queria um carro novo pra desfilar com os amigos, nunca havia sido. Eu estava além disso. Minha paixão... estava muito além disso.

O Escort passou a ser pra mim, um prazer imenso. Um orgulho. Evoluiu de um ódio sem fundamento para um amor inexplicável. Um motivo pra acordar cedo no sábado e me misturar a mecânicos, entrar e sair de lojas, enfrentar a fila do lava a jato. Um motivo pra estar lá, naquele mundo machista, recebendo olhares de desprezo e chacota e mesmo assim não me abalar, pois eu estava cuidando da minha jóia. E como isso é prazeroso! A sensação de sentir que ele te retribui cada minuto que você gastou no eletricista tentando descobrir porque a luz da bateria insistia em acender. Ele vale o esforço. Ele vale muito mais que isso.

Devo dizer que sendo mulher, o prazer é dobrado. Nós mulheres nos tornamos alvos fáceis das críticas e da incompreensão. Até o simples ato de calibrar um pneu se torna um foco cercado de olhares maliciosos à espera de uma mínima falha para que sejam liberados risos e comentários. É, o mundo automobilístico sempre foi reservado aos homens. Exatamente por isso a coisa é mais gostosa. E é exatamente isso que nós torna tão especiais. O zelo, o capricho, o tempo gasto, o carinho... e depois de tudo isso, o resultado final. E a prova de que nós também podemos (e queremos) nos assumir grandes amantes dessas máquinas. A constatação de que, pra nós, o Escort não é apenas um meio de locomoção, e sim um caso de amor eterno...

 

Raíssa Felipe
Escort Clube - DF